quarta-feira, 23 de julho de 2014

Nunca foi. Nunca será.

Não consigo saber bem desde quando não nos damos bem. Até onde eu consigo lembrar, minha memória vai além e mesmo assim não consigo encontrar um ponto onde tudo tenha começado. Acho que desde o dia em que eu nasci, sabíamos de certa forma que nunca teríamos uma boa relação. Deveria ser bem ao contrário, afinal pra todo pai a filha é uma princesa e pra todo filho o pai é um herói.
Que ironia, totalmente nosso oposto. Sempre fomos água e vinho, calmaria e tumulto, guerra e paz. Às vezes acho que não teria como ser diferente. Cresci vendo injustiça e algumas lembranças ainda me atormentam as vezes. São traumas, que mesmo que eu tente ao máximo, nunca vou conseguir esquecer ou perdoar.
Admito que tenha uma pequena parcela de culpa minha, mas não chega nem aos pés de tudo que já passei e de todas as mágoas. Não tenho nenhuma boa lembrança disso tudo, e cada dia mais as coisas pioram.
Quando eu era pequena ainda tinha esperança de que as coisas melhorassem... Pura ilusão, não há saída, não há voltas, não há trégua. Vejo tiros por todos os lados, ofensas, cobranças, gritos, e no final de tudo isso, lágrimas. Um choro baixinho, doído, silencioso no escuro até eu pegar no sono.
Escrevi muitas cartas, pedi muito, lutei ao máximo, estendi bandeira branca. Mas nada nunca adiantou, e sinceramente hoje em dia eu ataco mesmo, sem dó nem piedade, sem pena nem sentimento, se é pra ser guerra que seja então, não abaixo mais a guarda. Não existe respeito ou afeto com quem não move um dedo pra me ver feliz e só tranca minha vida e me impede de ser livre.
Não lamento mais, não me arrependo mais, não insisto mais. Preferia mil vezes a paz, o amor e a tranquilidade, mas já que é pra ser assim, tudo bem. Não é fácil saber que tenho que voltar pra casa todas às noites e recomeçar uma guerra sem fim, não queria que pessoas que eu amo sofressem junto por isso, mas eu não escolhi assim, apenas devolvo (em uma escala bem menor da que me é atingida) todo desamor e toda ignorância.
Muitos me julgam por eu evitar todo e qualquer tipo de contato que venha e ser afetivo, mas ninguém realmente vê a verdade, a verdade que não existe chances disso tudo acabar. Nasci predestinada a uma guerra dentro da minha própria casa. Ninguém me perguntou se eu queria tudo isso, ou algo do tipo. Apenas aprendi a não dar mais chances pra quem não merece o sal da comida que come.
Tentei muitas vezes entender, e procurar respostas. Mas não tenho culpa pelo destino ou pela falta de sorte que algumas pessoas haverão de ter na vida. Não tenho culpa se meus avôs morreram precocemente e ele não tem muito exemplo de amor maternal e paternal. A culpa não é minha, não posso sofrer as consequências disso tudo.
Nos transformamos em óleo e água, e óleo e água são opostos que nunca se misturam.


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