Lá estava
ela novamente. Fingindo não se importar com nada além dela mesma, fingindo não
levar nada muito a sério, fingindo absolutamente tudo. Colocava uma roupa que
mostrava exatamente como ela se sentia por dentro: um vans velho, uma calça
jeans marrom que ela gostava de dobrar na barra e deixar na altura da canela,
uma blusa larga preta e aquele casaco cinza que ela mais gostava. Você deve
estar pensando que ela literalmente não sabe nada de moda, e eu concordo.
Colocava o
pé pra fora e o dia já estava escurecendo. Ela não sabia qual o motivo de tudo
isso, mas ela seguia. No seu fone, tocava qualquer música realmente boa e que a
levasse para outro mundo, afinal daquele mundo real ela já estava cansada e
enjoada.
Odiava ter
que conviver com toda aquela pressa, odiava ter que abdicar de tudo, mas era
bem melhor voltar para casa tarde do que ter sua alma infectada pelo caos
infernal que habitava naquele espaço. Voltava tão cansada que às vezes
agradecia por não ter tempo nem de pensar antes de dormir, e apenas apagava.
Mentalizava
que tudo estava indo bem, e que todos os sacrifícios eram necessários, que nada
era por acaso e que era só uma fase que um dia ia passar e tudo daria certo. Mas
essa fase durava sua vida toda, nada ia tão bem e a gente sabe que certas
coisas nunca passam, e deixam marcas irreparáveis.
A única
salvação dela, eram as pessoas que lhe faziam bem. Nisso ela tinha muita sorte.
Aprendeu que amigos antigos nem sempre são sinônimos de verdadeiros e que
pessoas novas podem nos tirar da lama quando precisamos. E ainda bem que ela
tinha pessoas que a mostravam que a vida pode ser boa, nem que seja um
pouquinho.
Dia desses
trombei com ela quando me olhei no espelho, ela deu aquele sorriso meio tímido e
seguiu com seu fone tocando uma música bem alta, e com a cabeça no mundo da
Lua, afinal é só assim que ela consegue não pirar. Talvez eu encontre ela de
novo por aí em qualquer dia, não posso me esquecer de dizer que ela fica muito
mais bonita com aquele sorriso metálico devido ao aparelho e ao piercing no
smile, porque quando ela sorri, aquele olhos que mais parecem um
oceano brilham, e iluminam tudo ao seu redor.
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