Novamente
aquele assunto que ela já tinha deletado dos seus pensamentos, volta para lhe
atormentar e fazer lembrar de um passado que ela daria a vida para esquecer.
Por que revirar tudo outra vez? Por que não foi colocado uma pedra em cima de
tudo isso afinal? Quando ela pensa que esqueceu, lhe fazem lembrar. Recusa-se a
voltar lá novamente, porém sabe que é preciso. Há uma história lá para ser
encerrada de uma vez por todas, há mil coisas que um dia ela possuiu. Há uma
menina sonhadora e cheia de gargalhada que ela abandonou forçadamente.
Não lhe
perguntaram sua vontade nem sua opinião, simplesmente colocaram meia dúzia de
roupas em uma mochila e foram. Deixaram pra trás móveis, lembranças, dois
cachorros, sonhos e a paz interior de uma menina de onze anos que mal sabia o
que lhe aguardava.
De início
tudo parecia andar conforme o planejado, porém quando ela se deu por conta já
haviam-se passado dois anos. Dois anos perdidos. Os dois cachorros haviam
morrido de saudade e a poeira tomava conta daquele lugar. Lembra-se bem de como
deixara tudo, e após dois anos parecia tão diferente, sem vida. Saiu de
lá prometendo que nunca mais retornaria. Pior que sua vida atual, era lembrar
de como ela já foi boa um dia.
Oito anos se
passaram. E parece que nesse meio tempo ela não viveu. Ficou dormindo acordada
simplesmente realizando suas tarefas e obrigações. Sem nada do que já teve um
dia, sem ser o que já foi um dia. Não tinha um porto seguro, não tinha um
refúgio e não ousava se perguntar tudo que deixou de viver, etapas queimadas
como papel velho, sonhos e vontades que nunca se realizarão.
Ouviu dizer
que tudo está perto do fim. Se recusa a voltar lá. Que se dane móveis devem
estar cheios de traça e poeira, que se danem fotos devem estar mofadas, que se
danem o silêncio e a paz daquele lugar nada irá voltar, que se danem todas as
lembranças boas um dia tudo será esquecido, que se dane aquela menina de onze
anos que foi deixada lá. Hoje ela tem dezenove e um buraco na alma e sabe que
nunca mais nada será como já foi um dia.
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