Perdi tanta coisa nesses sete últimos anos. Abdiquei de
momentos que toda adolescente sonha. Minhas coisas preferidas ainda estão
jogadas em qualquer lugar enchendo de poeira. Nunca falei abertamente sobre
esse assunto. É algo muito doloroso. Me desfiz de todo meu quarto, da minha
privacidade. Fui tirada da minha vida e das minhas coisas sem nem ter direito
de escolha.
O quarto novinho em folha deve ter virado grãos de poeira,
os bibelôs devem ter sido consumidos pelas teias de aranha. As lembranças, as memórias,
tudo ficou lá, junto com a minha vida.
Queimei tantas etapas da minha vida que me perdi no meio
dela. Não vivi todas as coisas que toda garota normal deveria viver, e me sinto
meio esquisita sempre que me dou por conta que o tempo perdido não vai voltar.
Precocemente eu virei adulta, com responsabilidades
indevidas e descabidas para minha idade, e nunca tive a chance de reverter essa
história. Todas as noites durante uns três anos seguidos, eu me imaginava da
minha vida de volta. E como seria bom. Me sentia a mais feliz. Até acordar. Me
via naquela realidade ridícula e perdia as esperanças de ter tudo aquilo
novamente.
Aí que drama essa guria de novo enchendo o saco. Aposto meus
cílios que você deve estar pensando isso. Até pode ser uma tempestade imensa
num copo d’água, mas eu realmente não desejo isso nem para a pessoa mais detestável
do universo.
Queria que tudo fosse diferente, mas agora só cabe a minha
lutar por isso. A minha reserva de forças está no negativo. Minha cabeça só
gira gira gira e não encontra um lugar para se afirmar. Às vezes me sinto meio
desprotegida lutando contra a correnteza sem a certeza de que vou conseguir
escapar.
Só uma frase ecoa agora: “Reescrever
a história, transformar dor em glória.”